18 de novembro de 2024

Infantilizar uns e outros

 OPINIÃO no PÚBLICO 











Há demasiadas coisas que passam despercebidas no debate público, com efeitos mais graves do que se imagina. Uma delas foi uma recente medida governativa de favorecimento dos "jovens" na compra de casa estipulando que essa categoria tem o limite dos 35 anos. A idade-limite foi aumentada dos 30 para os 35. Parece que este limite de idade, em que ainda se é considerado "jovem", é considerado natural, quando na realidade não só é absurdo como exerce um efeito de infantilização cada vez mais acentuado nas novas gerações.

Com 35 anos presume-se que uma pessoa é adulta, nem sequer "jovem adulto", já tomou todas as opções da sua vida, tem trabalho, tem família, filhos, pode ter um curso superior e, presume-se que já está em condições para adquirir um bem caro, que é uma casa. Podemos, como se faz nos dias de hoje, considerar que esse trabalho pode ser precário, a dificuldade de encontrar habitação leva muitos jovens adultos, aqui usado o termo com mais precisão, a continuar a viver em casa dos pais, tudo isso afecta a vida económica e social e tem aspectos novos. Do mesmo modo, tem-se filhos mais tarde, em grande parte pelas dificuldades de iniciar uma vida com autonomia. Tudo isto é verdade, só que, quando se fala de alguém com 35 anos, seja quais forem as dificuldades, estamos a falar de um adulto, alguém que é suposto ter já uma considerável experiência de vida que nada tem a ver com o que fazia aos 20 anos.

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discuto uma sociedade em que existe uma espécie de pasta psicológica em que toda a gente está mergulhada, cheia de "estados de alma" que são também uma lucrativa indústria dos nossos dias. O que me interessa é o efeito dessa eterna juventude cujos efeitos sociais, a começar pela autonomia da vida adulta, são perniciosos para a democracia. Sim, para a democracia.

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Por outro lado, o idadismo:

Especialista da OMS explica que o preconceito se reflete "nas pequenas brincadeiras" do quotidiano, "na infantilização" ou "em estereótipos associados à idade, que menorizam a importância da pessoa mais velha".

O ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) Alexandre Kalache afirmou que o "idadismo", preconceito contra as pessoas mais velhas, é "uma grande peste à escala mundial" que importa combater.

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