Entre os escombros ... Às vezes, e esse às vezes deve ter a ver com a idade como com um penchant para a nostalgia e para o fatalismo, olhamos para os nossos objectos com uma presciência estranha: hão-de sobreviver-nos, hão-de ser para outros a talvez incómoda, talvez demasiado espaçosa memória de nós, hão-de ser avaliados e distribuídos como avaliámos e distribuímos a memória de outros. Alguém escolherá entre as nossas coisas o que vale a pena guardar e o que é lixo, alguém decidirá por nós. É como uma estranha forma de sobrevida, talvez a única disponível: uma fotografia antiga, um móvel na casa de um neto, uma carteira de lagarto na mão de uma sobrinha, cartas de amor numa gaveta.
Que fazer numa tarde de domingo cinzenta? Ontem deu-me para um peculiar encontro: com ALEXANDRE O'NEILL, no Parque dos Poetas, em Oeiras. Por ali estivemos em conversa muda e, depois de nos despedirmos, vim pensando naquele título dele, As andorinhas não têm restaurante. A maioria dos homens também não!