18 de outubro de 2024

Um violino (poesia)


Vive ignorante da própria beleza
como se no olhar
não transportasse o verde-azul do mar
e em seu redor a natureza
não corasse de espanto ao ver passar
quem assim tem cabelos de luar.

E porque a sua fala é um violino
ecoando na lonjura
entreguei-lhe o meu destino
e morro aos poucos de ternura.


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EMBARAÇO 

Olhas-me entre a surpresa e o desencanto
e eu fico embaraçado ante esse olhar.
Nada podia perturbar-me tanto
como uns olhos roubados ao luar
das noites em que o tempo e o lugar
se faziam de espuma, luz e espanto.
Mas o que importa, sobre a ruinosa
erosão dos desenganos,
é esta força de quem ousa
amar-te acima do passar dos anos. 



Esta palavra saudade

 














Saudade é solidão acompanhada,

é quando o amor ainda não foi embora,

mas o amado já.


Saudade é amar um passado que ainda não passou,

é recusar um presente que nos machuca,

é não ver o futuro que nos convida.


Saudade é sentir que existe o que não existe mais.


Saudade é o inferno dos que perderam,

é a dor dos que ficaram para trás,

é o gosto de morte na boca dos que continuam.

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Aguinaldo Silva  


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17 de outubro de 2024

Pedro Nuno Santos dixit



O Secretário geral do Partido Socialista acaba de anunciar a abstenção na votação do Orçamento do Estado 2025.

Não tinha melhor saída...

Demorou a decidir; tardou mas chegou lá  !

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A exibição foi escolha

 RECORTE DE IMPRENSA 



Em primeiro lugar, queria discutir a ideia de humilhação. Qualquer figura pública que se apresente em tribunal para ser julgada por uma série de crimes sofre a humilhação própria de quem é suspeito de ser criminoso. Sempre foi assim e não vejo como possa vir a ser de outra maneira, ainda que essa pessoa seja posteriormente inocentada. Mas a ideia de que a humilhação é muito maior por Ricardo Salgado estar velho e ter Alzheimer, que parece ser partilhada por 99% da população portuguesa, não é definitivamente partilhada por mim. Recuso-me a admitir que um velho com Alzheimer seja uma vítima de humilhação só porque é velho e tem Alzheimer. A exibição da fragilidade humana não é nenhuma desonra; não é um estado que tenha de ser vivido longe de olhares públicos, como se fosse uma espécie de peste. Até ver, é mais ou menos assim que todos vamos acabar.

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Mundo Dividido

 Shivshankar Menon esteve em Portugal a convite do Clube de Lisboa para participar na conferência "Um Mundo Dividido", que decorreu entre os dias 10 e 11 de outubro na Fundação Gulbenkian. 

"Rússia e Israel pensam que têm espaço porque não há ninguém para fazer cumprir as regras. Mesmo que quisessem, EUA e China não podem governar o mundo".





















Devo admitir que dei por mim a sorrir, não sem alguma ironia, quando uma pessoa da audiência perguntou o que é que a Índia pode ensinar a outros países sobre a convivência pacífica entre diferentes etnias e religiões...


Sim, neste momento temos os nossos próprios problemas (risos).

A começar pelo facto de o atual primeiro-ministro, Narendra Modi, estar apostado num nacionalismo religioso excludente, sob o paradigma "uma nação, uma eleição", com tentativas de alterar a Constituição, usando o Hinduísmo para jogar com os medos das pessoas...

Penso que existe sempre esta tentação de olhar para o nacionalismo como sendo o nacionalismo europeu do século XIX, certo? Uma etnia, uma nação, uma eleição, qualquer que seja a linguagem. Mas a Índia tem uma sociedade tão plural e é um sítio tão diversificado que tentativas anteriores de centralização, de controlo, também falharam. E o facto é que a política normalmente acaba por tratar destas coisas. Neste momento, vemos que o governo depende de uma coligação e, para formar uma coligação, tens de trabalhar com outros partidos que têm interesses ligeiramente diferentes dos teus. E é dessa forma que todos os diferentes interesses são acomodados. Se nos limitássemos a ler os programas dos partidos políticos, realmente pensaríamos que a Índia está altamente polarizada, questionar-nos-íamos como é possível que alguma coisa funcione, dado que toda a gente tem ideias completamente diferentes sobre a Índia que querem construir. Mas ainda assim funciona. Quero dizer, a vida quotidiana continua, a economia está em bom estado e há hoje mais pessoas a viver uma vida melhor do que algum dia viveram. Penso que a força da Índia está no facto de ser um sistema federal.

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Trinta dias para a fome e a morte


O responsável máximo da diplomacia da União Europeia deixou críticas a Washington face ao prazo de um mês concedido pelos norte-americanos a Israel para melhorar a situação humanitária em Gaza.

Josep Borrel alerta que no decorrer desses 30 dias muitas pessoas morrerão: "Os EUA têm dito a Israel que tem de melhorar o apoio humanitário a Gaza, mas deram um mês. Um mês ao ritmo atual de mortes de pessoas é muita gente".

Capas de revistas

 




Espanto


Quase toda a exibição de autossuficiência produz em mim uma sensação de espanto e admiração. 


F. Scott Fitzgerald

Opiniões

 No Observador 

Fotografia do Colunista
Bruno Bobone

Quem tem medo do perdão e do amor?

A partir de determinado mo-

mento, e esse momento neste 

caso já passou há muito

tempo, já não importa 

quem tem razão nem 

sequer quem ganha ou 

perde.

Apenas a paz é necessária, 

desejável e exigível.




Fotografia do Colunista
Alexandre Borges

Caso BES - o crime e a pena

Uma coisa é o homem idoso 

com Alzheimer; outra, quem 

liderou um grupo empresarial 

que deixou milhares de pessoas 

sem as suas poupanças, e 

prejuízos de quase 12 mil 

milhões de euros para 

o Estado.

Fotografia do Colunista
Ana Sofia Branco

A Desigualdade e a Pobreza Feminina

Olhando para o futuro as 

mulheres são fundamentais 

para a transformação das 

relações de trabalho e na 

melhoria das políticas de 

bem-estar. A sua liderança 

será central para impulsionar 

reais mudanças.

Conhecer

- Estas flores bonitas são de ... ?

- Eucalipto 💚



Tropeço de ternura (poesia)


 

Degrau a degrau

 



Há cinco degraus para se alcançar a sabedoria: calar, ouvir, lembrar, sair, estudar.

Provérbio Árabe

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Um dos segredos da vida é fazer degraus com as pedras em que tropeçamos.


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(nanos gigantum humeris insidentes) 

Isaac Newton, escreveu em 1675: "Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes".  --->outros lhe prepararam a escada.

Miguel Esteves Cardoso

 


Se Deus existe, é para responder quando mais ninguém nos pode responder. Mas não responde a orações nem a pedidos – responde Existindo. Responde como destino. É a posta-restante das nossas almas aflitas. “Ao menos que alguém me ouça...”.


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Deve-se ter o mínimo de respeito pelo sofrimento e sofrer-se sozinho. Os portugueses não são capazes. Exibem as más-disposições de uma maneira assustadora. Se andam de trombas, andam trombudos pela rua. Não disfarçam. Deviam disfarçar. Usar capote como o «Elephant Man». Mesmo quando estão indispostos sem saber bem porquê, anunciam «Não sei o que tenho, mas não tenho andado nada bem...».


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Portugal é um luxo. Sai caro. Quem é que está disposto a pagar o preço. O preço da independência política de Portugal não podia ser maior: é a pobreza. Acrescida de uma taxa: a solidão. As recompensas são menos concretas: a dignidade, o sentido do dever cumprido, a liberdade nacional.

Miguel Esteves Cardoso 

16 de outubro de 2024

No Mercado de Arroios

 Em Lisboa 



De Miguel Torga

 

Flor Preservada


Colho, maravilhado,

A flor do teu sorriso;

E tudo à minha volta

Se transfigura:

O céu é um mar azul onde navegam aves;

E as montanhas, suaves

Ondulações

Do grande berço maternal do mundo.

Perturbado,

Confundo

As sensações;

E apenas sei que a vara de condão

É o sol de pétalas que me aquece a mão.


Filha:

Os poetas são loucos.

E poucos

Acreditam

Que a loucura

É o dom do eterno em cada criatura. 


Mas neste testemunho comovido, 

Neste poema erguido 

Sobre a campa das horas 

Como um facho de luz inconformada, 

Terás, intacta, pela vida fora 

A rosa da inocência que és agora.


MIGUEL TORGA in DIÁRIO VIII

ANTOLOGIA POÉTICA

No século passado

 Era assim o Portugal de outro século 












Um Portugal muito rural e muito pobre. Depois de Abril de 1974 a evolução foi grande. 

Não está tudo feito, a pobreza ainda existe, mas o rosto do País mudou.

Opiniões

 No Observador 

Fotografia do Colunista
João Miguel Miranda

A importância da oposição interna

Enquanto militante do Partido

Socialista, estou muito insatis-

feito com o novo rumo do partido. 

Vê-lo resvalar para a uniformi-

dade de pensamento é muito

 alarmante.

Fotografia do Colunista
Maria João Avillez

Afinal, Portugal raramente foi mais do que “isto”

Não há um português que suporte 

um minuto mais “disto”. Dançaram-

-se demasiadas valsas no verão, 

o outono continuou com polcas 

desastradas mas ambas, valsas e 

polcas, já não podem mais ser 

dançadas.

Estatística

 

             👆👆👆

Como se eu fosse um búzio

 












A tua carne cantou em mim 

como se eu fosse um búzio 

e tu um mar em som, 

presente e longínquo.


É em ti que vive hoje ainda, 

a reavivar o instante sóbrio e perfeito 

que a noite trouxe em teus olhos debruçados

sobre a tua e a minha solidão?... 


Mas quando a noite a fechar-se 

chama do mar a bruma rumorejante, 

tuas mãos frias e recolhidas talvez ainda

tenham uma saudade muda para mim...


João José Cochofel

Poema de amor