5 de maio de 2023

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VISÃO DO DIA - 5 Maio 2023

Miguel Carvalho

FAÇAM APOSTAS: QUANTO TEMPO AGUENTA GALAMBA? E O GOVERNO?

...  vamos aos estilhaços provocados pelo monumental e público raspanete de Marcelo Rebelo de Sousa ao Governo na sequência do "caso Galamba". O tema trouxe-me à memória aqueles que, no PS, defenderam que o partido deveria ter apresentado um candidato próprio às presidenciais de 2021. Dois deles, curiosamente, foram o próprio João Galamba e, de forma mais veemente, o ex-ministro Pedro Nuno Santos. O atual vice-presidente da bancada socialista no Parlamento, Porfírio Silva, também o fez. Este último alertou para os "desequilíbrios importantes" que ocorreriam no regime se o PS desse apoio direito ou indireto à reeleição de Marcelo. Quanto a Pedro Nuno, criticou o "bloco central informal" da época entre São Bento e Belém e alertou para os riscos de a estratégia então seguida só ser boa para o Governo "a curtíssimo prazo" (chamem-lhe bruxo). O perigo de ver o extremismo e o populismo ganhar apoios era, segundo Porfírio e Pedro Nuno, outro dos riscos. Basta ver quem, no íntimo, se está a rir com este cenário.

Os leitores dirão: sim e depois? Marcelo não teria ganho à mesma? Verdade. A vitória do atual presidente nunca estaria em causa, mas o namoro da época deixou Ana Gomes sozinha a defender o "ideário socialista" e permitiu a Marcelo meter no bolso o apoio (declarado ou encolhido) do PS em nome da aparente lua de mel que então se vivia. Para alguns, o partido perdeu então uma excelente oportunidade de marcar território para memória futura e impedir Ventura de lançar foguetes para o que hoje temos.

O antigo embaixador Francisco Seixas da Costa usou ontem um termo curioso para definir a "exagerada propensão" do Presidente da República para, em cada momento, intuir o sentimento dos portugueses: chama-lhe "populismo do bem". Na verdade, uma vez mais, Marcelo fez do povo a sua razão e pretexto para reduzir Galamba a "pó" e avisar o Governo do divórcio consumado entre Belém e São Bento, de que os arrufos públicos dos últimos meses e a encenação frequente da peça "agarrem-me, senão dissolvo" são a prova. Da vichyssoise ao gelado, como de forma humorada ilustrou a historiadora Irene Pimentel nas redes sociais, é "toda uma vida". E toda ela cabe no Marcelo estadista, tal como o veneno e a matreirice habitam o António Costa mais institucional. O problema é que, agora, a roupa suja lava-se ao relento e o estendal está montado à vista de todos. O equilibrio institucional entrou nos cuidados intensivos e já quase não é preciso intuir o cenário eleitoral antecipado: ele está por todo o lado. E o País político já começou a fazer apostas: quantos dias se aguenta Galamba? E o Governo? Os próximos dias e semanas trarão, previsivelmente, mais detalhes "pornográficos" sobre os acontecimentos que provocaram esta crise, onde agressões, ameaças, segredos de Estado e espiões serviram para cozinhar aquilo que até poderia ser uma série de alto coturno, caso não estivesse a passar-se nas nossas barbas. Sim, vêm aí as audições parlamentares. E mesmo tendo o SIS chamado a explicar-se e o PS chumbado as presenças do ex-adjunto de Galamba e do ministro que esteve com um pé fora por poucas horas, o assunto não vai morrer. Haverá ainda margem para reuniões "secretas", com perguntas e respostas combinadas, como no caso da TAP, que simulem alguma decência? Ou teremos mais pretextos para Marcelo vir a público demonstrar a sua impaciência, que já está nos limites?  

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