21 de novembro de 2023

Vem aí uma deriva radical ?

David Dinis

Director-adjunto - Expresso 


A nossa última oportunidade antes da deriva radical 

21 NOVEMBRO 2023

António Costa perdeu o filtro, Augusto Santos Silva fala de criminalização de atos de governação, Ferro Rodrigues (com legítimas razões de queixa no passado) já acusa a justiça de ter derrubado a maioria. Aos que, no PS ou fora dele, encontram razões para apontar o dedo à Justiça, é preciso ainda lembrar que o que aconteceu não nasceu do nada.

Antes de 7 de novembro já contávamos seis casos em que a Justiça entrou pelo Governo adentro. Lembramo-nos todos da displicência com que António Costa reagiu a qualquer um deles. Depois, no final de 2022, o primeiro-ministro nomeou João Galamba para o lugar de Pedro Nuno Santos sabendo, como todos nós sabíamos, que o Ministério Público estava a investigar pelo menos um dos casos que levou a este processo. Não havia arguidos, é certo, mas havia suspeitas públicas. Também o Tribunal de Contas indicava ter em curso uma auditoria aos apoios do Estado aos investimentos no lítio.

António Costa assumiu o risco, mas o Presidente da República também. Depois de ter deixado cair a pressão para uma reforma da justiça (a que o PS não deu sequência), Marcelo reagiu à nomeação de Galamba sacudindo responsabilidades: "O critério é fazer com a prata da casa para não mexer muito naquilo que existe. Se isso funcionar é uma boa ideia, se não funcionar retiraremos daí as conclusões. Isso recairá sobre o primeiro-ministro", disse ele, durante anos incapaz de levar o Governo para um caminho de maior lisura ou transparência.

Como escreve Yascha Monk, um notável especialista na crise das democracias liberais que vivemos, “a sobrevivência das democracias sempre dependeu da vontade das principais figuras políticas de jogar de acordo com as regras do jogo” (The People vs Democracy, 2018). Uma lição que, infelizmente, muitos parecem não ter interiorizado nos últimos tempos.

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