23 de janeiro de 2024

Carisma





Políticos carismáticos 

Jan-Werner Muller explicou-os assim, este fim de semana, no Financial Times:

"Os movimentos fundados por líderes carismáticos podem transformar-se em cultos de personalidade, sem as vantagens que os verdadeiros partidos oferecem a uma democracia. Os partidos oferecem programas de longo prazo, que tornam suportável a ideia de perder uma eleição – porque é sempre possível tentar persuadir os eleitores nas sondagens ou na eleição seguinte. Estes movimentos acabam muitas vezes controlados pelo seu fundador, sem uma orientação ideológica definida e presas pelo narcisismo do seu líder.

Muller dá-nos exemplos válidos, para mostrar que não está a apontar apenas aos populistas, mas a alertar para os riscos de os próprios partidos do sistema se renderem a lideranças vistas como ‘fortes’: nos EUA, com o partido republicano rendido a Donald Trump há 10 anos,“nenhum republicano conseguiu pará-lo em 2020, como nenhum conseguirá agora”; na Áustria “ninguém consegue fiscalizar ou pedir contas a Sebastian Kurz” depois de este ter subordinado um antigo partido a si próprio; assim como França parece “à mercê dos caprichos de Macron”.

Escreveu Jan-Werner Muller: quem escrutina um líder carismático num partido assim? Quem garante que há verdadeiro debate e participação dentro desse partido? Quem garante, se um líder assim cometer erros (ou até um crime), que o partido mude de liderança? E que política se seguirá, se é este líder “carismático” que a define, tantas vezes em contradição consigo próprio?

David Dinis 

Expresso 


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