A um carvalho
Eis o pai da montanha, o bíblico Moisés
Vegetal!
Falou com Deus também...
E debaixo dos pés, inominada, tem
A lei da vida em pedra natural!
Forte como um destino,
Calmo como um pastor,
E sempre pontual e matutino
A receber o frio e o calor!
Barbas, rugas e veias
De gigante.
Mas, sobretudo, braços!
Longos e negros desmedidos traços,
Gestos solenes duma fé constante...
Folhas verdes à volta do desejo
Que amadurece.
E nos olhos a prece
Da eternidade.
Eis o pai da montanha, o fálico pagão
Que se veste de neve e guarda a mocidade
No coração!
Miguel Torga
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