22 de março de 2024

Mas agora que vai descer a noite (poema)






Mas agora que vai descer a noite na minha vida

Triste de mim mais triste que a tristeza

triste como a mão que segura o copo

como a luz do farol esgaçando a névoa

triste como o cão manco

deixado na estrada pelos caçadores

triste como a sopa entretanto azeda

mais triste que a idiotia congénita

ou que a palavra ampola

triste de mim triste e perdido

entre duas ruas

uma que vai para o Norte outra para o Sul

e ambas cortadas aos peões

que não cooperam devidamente

(com este governo de merda é claro)

triste como uma puta alentejana

num bar de Ourense

que me viu à cerveja e lesta

me chamou compadre

vozes que a gente colecciona

a tarde triste os anos tristes

a grande costura da tristeza

do esterno ao baixo ventre

triste e já sem nenhum reparo

a fazer à metafísica

senão que é um défice

porventura do córtex cerebral


Fernando Assis Pacheco 



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