25 de março de 2024

Não te fies (poema)












Não te fies do tempo nem da eternidade

que as nuvens me puxam pelos vestidos,

que os ventos me arrastam contra o meu desejo.

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,

que amanhã morro e não te vejo!


Não demores tão longe, em lugar tão secreto,

nácar de silêncio que o mar comprime,

ó lábio, limite do instante absoluto!

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,

que amanhã morro e não te escuto!


Aparece-me agora, que ainda reconheço

a anêmona aberta na tua face

e em redor dos muros o vento inimigo…

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,

que amanhã morro e não te digo…


Cecília Meireles 

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