18 de abril de 2024

Adília Lopes, poesia diferente








ESTA IRENE não me deixa ouvir a sirene

vou-me pôr a ver passar a ambulância

se for carro dos bombeiros decerto

vermelho se for da

Polícia normalmente azul

levarei para o parapeito

o meu peito velho e virgem e a lata

das bolachas maria mas podia

em vez de octogenária e bulímica

ter alguns meses biquentos e usar babadoiro

ser talvez qual tímida donzela

pela miúda gelosia espreitando

feia no berço: bonita à janela não

não a avisto ainda apenas a sirene

e aquela abelhuda da Irene a cantar:

Minha mãe é pobrezinha

Não tem nada que me dar

Dá-me beijos, coitadinha…!

e eu que queria ouvir bem a sirene

e ver o incêndio o assalto a estropiada o estupro

rilharei bolachas maria

até ao fim deste dia

e do outro?

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Prémios e comentários

A avó Zé e a tia Paulina

deram-me os parabéns

e disseram

agora já é uma senhora!

a Maria disse

parabéns por quê?

é uma porcaria!

quanto a comentários

a poesia e a menarca

são parecidas.

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