Os meus heróis
Prezo os símbolos, o rasto e os sinais da minha nostalgia portuguesa.
Mas os meus heróis verdadeiros não vêm na história,
não têm monumentos nas praças domingueiras nem dias feriados a lembrar-lhes o nome,
são heróis dos dias úteis da semana levantam-se antes do sol e recolhem apenas quando a noite se fecha nos seus olhos,
lavram a terra, o mar, e são jograis colhendo a virgindade púdica da vida, sobem aos andaimes, descem às minas e comem entre dois apitos compulsivos um caldo de lágrimas antigas,
são os construtores do meu país à espera, mouros no trabalho e cristãos na esperança famintos do futuro,
como se a madrugada fosse a seara imensa apetecida onde o sol desponta nas espigas sobre o casto silêncio da montanha.
António Arnaut
em "Recolha poética (1954-2004), Coimbra Editora
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