28 de junho de 2024

Não te esqueças de mim (poesia)














Não te esqueças de mim, quando erradia 

Perde-se a lua no sidéreo manto; 

Quando a brisa estival roçar-te a fronte, 

Não te esqueças de mim, que te amo tanto.


Não te esqueças de mim, quando escutares

 Gemer a rola na floresta escura, 

E a saudosa viola do tropeiro 

Desfazer-se em gemido de tristura.


Quando a flor do sertão, aberta a medo, 

Pejar os ermos de suave encanto, 

Lembre-te os dias que passei contigo, 

Não te esqueças de mim, que te amo tanto.


Não te esqueças de mim, quando à tardinha 

Se cobrirem de névoa as serranias, 

E na torre alvejante o sacro bronze 

Docemente soar nas freguesias!


Quando de noite, nos serões de inverno, 

A voz soltares modulando um canto, 

Lembra-te os versos que inspiraste ao bardo,

Não te esqueças de mim, que te amo tanto.


Quando os anos de dor passado houverem, 

E o frio tempo consumir-te o pranto, 

Guarda ainda uma idéia a teu poeta, 

Não te esqueças de mim, que te amo tanto.


- Fagundes Varela, em "Vozes da América",


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