25 de junho de 2024

Vinicius, poeta de todo o amor

 











































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Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida 
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida 
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.

Ó vós que vos negais à escuridão dos bares 
Onde o homem que ama oculta o seu segredo 
Vós que viveis a mastigar os maxilares 
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.

Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos 
Que tudo equacionais em termos de conflito 
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito 
E não sabeis vencer se não houver vencidos.

Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres 
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos 
E maiusculizais os sentimentos nobres 
E gostais de dizer que sois homens honestos.

Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres 
Que só articulais para emitir conceitos 
E pensais que o credor tem todos os direitos 
E o pobre devedor tem todos os deveres.

Ó vós que desprezais a mulher e o poeta 
Em nome de vossa vã sabedoria 
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta 
E achais que o bem do alheio é a melhor iguaria.

Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra 
Falsos chimangos, calabares, sinecuros 
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra... 
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros."

Vinícius de Moraes

Amou as mulheres, a vida, a humanidade. 

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