24 de julho de 2024

Transcendentalismo (poesia)

 



(A J. P. Oliveira Martins)


Já sossega, depois de tanta luta,

Já me descansa em paz o coração. 

Caí na conta, enfim, de quanto é vão 

O bem que ao Mundo e à Sorte se disputa.


Penetrando, com fronte não enxuta, 

No sacrário do templo da Ilusão, 

Só encontrei, com dor e confusão,

Trevas e pó, uma matéria bruta...


Não é no vasto mundo por imenso 

Que ele pareça à nossa mocidade 

Que a alma sacia o seu desejo intenso...


Na esfera do invisível, do intangível, 

Sobre desertos, vácuo, soledade, 

Voa e paira o espírito impassível!


Antero de Quental, in "Sonetos"

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