22 de agosto de 2024

A casa morreu

 


***

A casa morreu no lugar onde nasci: 

a minha infância não tem mais onde dormir.

Mas eis que, de um qualquer pátio, 

me chegam silvestres risos de meninos brincando. 

Riem e soletram as mesmas folias 

com que já fui soberano de castelos e quimeras. 

Volto a tocar a parede fria e sinto em mim 

o pulso de quem para sempre vive. A morte.


Mia Couto 

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