1 de agosto de 2024

*A Serenata*


"Uma noite de lua pálida e gerânios 
ele viria com boca e mãos incríveis 
tocar flauta no jardim.


Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.

Eu que rejeito e exprobro 
o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia, 
os cabelos entristecidos, 
a pele assaltada de indecisão. 

Quando ele vier, porque é certo que vem, 
de que modo vou chegar ao balcão 
sem juventude?

A lua, os gerânios e ele serão os mesmos 
só a mulher entre as coisas envelhece. 
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?

Como a fecharei, se não for santa?"

 Adélia Prado

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