Se partires, não me abraces -
a falésia que se encosta uma vez ao ombro do mar
quer ser barco para sempre e sonha
com viagens na pele salgada das ondas.
Quando me abraças, pulsa nas minhas veias
a convulsão das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim
é como um vento a corrigir a rota do navio.
Se partires, não me abraces -
o teu perfume preso à minha roupa
é um lento veneno nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz senão enumerar
as próprias feridas (como a falésia conta as embarcações perdidas nos gritos do mar);
e o rosto espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.
Maria do Rosário Pedreira
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