29 de setembro de 2024

Dois amigos do escritor


Tenho dois amigos, um é o José Tolentino de Mendonça e outro o [frei] Bento Domingues - nunca conheci ninguém tão alegre como eles - e sempre que os encontro peço-lhes para não se esquecerem de rezar por mim. Digo-lhes: não sei se Deus me ouve, mas a vós escuta de certeza. 

Eu dizia: Ó Bento, se eu morrer o que faço? E ele respondia: "Continuas a escrever. Descansa que te vão ler e que vais encontrar temas." 

É um homem admirável, sem vaidade, generoso e humilde, ele que até aos 12 anos andava atrás das cabras no Minho e só depois de um dominicano ter ido dizer a missa à sua aldeia é que descobriu que queria ser como o frade e foi para o seminário. 

Uma vez perguntei-lhe: Está sempre assim feliz? E e ele, numa surpresa genuína, disse-me: "O que posso ser senão feliz." 


Lobo Antunes

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