Ficarei deitada entre flores murchas e molhadas
como o pássaro que ignora estar caído e morto
sobre pedras íntimas escorregadias de sal
no chão de tábuas de um quarto crepuscular
ou sobre as lajes nuas de uma praça onde se nasce e morre sem pausa e sem dor.
Será talvez assim numa praça que não se atravesse nunca vagamente
por estar finalmente a cumprir-se o oráculo
ao dormir amante sobre o ventre de mãe
da única alva de amor partilhada
com cordas de chuva a rasgarem-me o dorso
e a mesma violência de ritmo bendito com que me empurraste contra as tábuas da barcaça
há quatro séculos e um dia em Bruges. Era Setembro tanto faz.
Ana Margarida Falcão
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