31 de outubro de 2024

Dentro do meu caderno

 


Dentro do meu caderno

há uma pena branca

de palavras e gestos cansados

de inocência a prazo ao longo do tempo.

 

Dentro do meu caderno

há mensagens desamparadas como os dedos verdes das estrelas

ora inquietas no mar incerto ora plácidas no mar sereno.

 

Sempre assim foi no meu caderno

de menino criador de silêncios nos desertos de um poema.

 

A beleza nua embriagada de mel

nasce dentro do meu caderno

sobre as águas de um mar de ouro do sol poente.

 

Do azul do mar fiz um barco pintado de sonhos

e na sua cama infinita perdi o respeito pelo silêncio do teu corpo.

 

Dentro do meu caderno

cai a chuva no cristal do pensamento

alheio aos nossos corpos e nossos mundos.

 

Dentro do meu caderno

Para que servem músicas se não sabemos cantar?

 

Caiam as folhas secas e nasçam flores brancas

onde a nudez se veste de palavras e gestos esgotados.


Adão Cruz 

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