29 de outubro de 2024

Espuma (poesia)

 










Não se chega por trás ao infinito

nem pela frente ou pelos lados mas por onde

nenhum nome pode ser dito ou escrito

e ninguém sabe ao certo o que se esconde.


Não pela palavra Nada (a tão terrível)

nem pela palavra Tudo (a tão perigosa)

mas aquém do visível e do dizível

ou da palavra rosa antes de ser rosa.


Ou talvez onde um vento ignoto sopre

entre a pedra e o vitral o dentro e o fora

lá onde cheira a incenso e cheira a enxofre

e Deus não cabe na palavra agora.


Entre aquém e além ser e não ser

tantas portas abertas ou talvez nenhuma.

Não há senão um verso por escrever

e sobre a areia branca a breve espuma.


Manuel Alegre 

Doze Naus. Lisboa: Dom Quixote.

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