26 de outubro de 2024

Poema de Torga

 LEGADO


A quem vier um dia, curioso 

De conhecer uma novela triste, 

Contai-lhe a minha história verdadeira. 

Dizei-lhe onde nasci, onde morri, 

O que vi,


E como só fui carne passageira. 

Podeis também mostrar-lhe estes meus versos 

E o caminho do jogo onde passei 

A cantá-los, rebelde e apaixonado... 

Mas guardai o segredo do meu pó 

Onde podre e desfeito vivo só, 

Da própria consciência abandonado.


Miguel Torga

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