28 de novembro de 2024

Casa deserta (poesia)

 


Ah nada pior que a casa deserta, 

sozinha, sozinha.

O fogão apagado e tudo sem interesse. 

O mundo lá longe, para lá da floresta.


E o vento soprando 

a chuva caindo 

a casa deserta...


Ah nada pior que estes dias e dias, 

de cachimbo aceso, com as mãos inertes, 

com todas as estradas inteiramente barradas,

 ouvindo a floresta.


Com tudo lá longe, na casa deserta,

o vento soprando

e a chuva caindo, na noite caindo...


Há uma cancela que range nos gonzos 

um velho cão de guarda que ladra sem motivo

-parece que é gente que vem a entrar...


E é só vento soprando, soprando 

e a chuva caindo...


Mudaram muita vez as folhas da floresta. 

Os olhos do homem são olhos de doido. 

Fogão apagado, aceso o cachimbo, 

o mundo lá longe.


E o vento soprando 

a chuva caindo 

a casa deserta


Mário Dionísio 

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