10 de novembro de 2024

Privilégio (poesia)

 










Amor é privilégio de maduros 

estendidos na mais estreita cama, 

que se torna a mais larga e mais relvosa,

 roçando, em cada poro, o céu do corpo.


É isto, amor: o ganho não previsto, 

o prémio subterrâneo e coruscante, 

leitura de relâmpago cifrado, que, 

decifrado, nada mais existe.


valendo a pena e o preço do terrestre, 

salvo o minuto de ouro 

no relógio minúsculo, 

vibrando no crepúsculo.


Amor é o que se aprende no limite, 

depois de se arquivar toda a ciência 

herdada, ouvida. 

Amor começa tarde.


(Carlos Drummond de Andrade, 

in 'As Impurezas do Branco')

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