4 de novembro de 2024

Uma sombra (crónica)

Às vezes sinto que não somos mais do que uma sombra que caminha sozinha na direção da noite, que tudo o que amamos, tudo o que tocamos, acaba por desaparecer como as folhas que o vento leva.

O passado está cheio de rostos que não recordamos bem, cheios de vozes que se apagam devagar dentro de nós, e de repente somos estranhos para nós mesmos, como se a nossa pele estivesse habitada por fantasmas. Procuramos, ao longo da vida, um sentido para as coisas, mas o sentido parece fugir sempre que nos aproximamos dele.

No fim, restamos apenas nós, com as mãos vazias e o peito cheio de uma saudade que nem sabemos explicar.


António Lobo Antunes

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