22 de dezembro de 2024

Natal à beira-rio (poesia)

 


É o braço do abeto a bater na vidraça!

É o ponteiro pequeno a caminho da meta!

Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,

a trazer-me da água a infância ressurrecta.


Da casa onde nasci via-se perto o rio.

Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!

E o Menino nascia a bordo de um navio

que ficava, no cais, à noite iluminado...


Ó noite de Natal, que travo a maresia!

Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.

E quanto mais na terra a terra me envolvia

mais da terra fazia o norte de quem erra.


Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me

à beira desse cais onde Jesus nascia...

Serei dos que afinal, errando em terra firme,

precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia!


David Mourão-Ferreira, 

Cancioneiro de Natal

Sem comentários:

Enviar um comentário