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Nessa época, o ambiente cultural era fervilhante, mas o que se pedia era mais liberdade. Ninguém se lembrava que um presépio podia ser ofensivo para outras religiões, do mesmo modo que em nada ofendia haver outras religiões, crenças, costumes (falo por mim e pelos meus). Os meus antepassados eram apóstolos da tolerância e da fraternidade universal. E eu tento ser como eles.
É por isso que entendo que o Natal, na essência, não se afastou muito do espírito que tinha na minha juventude. É comercial – os presentes, as comezainas - é importado da Coca-Cola e do São Nicolau, o pai Natal (que era verde e passou a ser vermelho, por motivos comerciais) e o menino Jesus passou para um plano onde estava há muito tempo – aquele que a minha tia (excêntrica, na minha família) há muito alertava. Ninguém celebra o nascimento de Cristo, e chego a admirar-me como ainda há quem saiba que é isso que se comemora. Já se perguntarmos por que razão se chama Natal, verão que poucos ligam esta palavra a nascimento, de onde vem, diretamente do latim.
Pessoalmente, evoluí de modo considerável desde o momento em que soube que o Pai Natal não existia. Passei a admirar os que, em sinal de resistência, colocam o menino Jesus nas janelas e varandas; é uma resistência digna de quem crê e, verdadeiramente, uma história bastante mais bonita do que a mera distribuição de presentes e comida a rodos.
Mas o bicho homem é terrível; tal como nas escrituras aproveita as menores frechas para adorar o bezerro de ouro, também ao longo da História aproveita as festas, religiosas ou não, para se satisfazer. E, no fundo, entre isso e uma mortificação absurda, triste, fúnebre, mais vale o que temos. Desde que haja uma tia para avisar o verdadeiro sentido do que fazemos.
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