Imagine um cartaz que dissesse: "Os judeus têm de cumprir a lei."
Imagine esse cartaz em qualquer lugar da Europa de hoje - ou na dos anos 30. Ninguém teria dúvida do lugar profundo de antissemitismo de onde ele viria, um antissemitismo que manchou a história europeia dos piores crimes cometidos neste continente e que continua ainda vivo e perigoso nos dias de hoje.
Dos ciganos, porém, pode dizer-se tudo. Pode inclusive esquecer-se que eles, os europeus de etnia roma, foram também vítimas do Holocausto -- meio milhão, ou talvez mais, de pessoas assassinadas nas câmaras de gás, entre um quarto e metade da população da etnia nesse tempo. Mas para os ciganos não há a consideração e o respeito histórico que lhes seria devido enquanto vítimas do nazi-fascismo, que também foram.
Esta semana ouvi no plenário do Parlamento um deputado apontar para as galerias e dizer que "ali não estão ciganos, mas polícias e bombeiros". Não me interessa o nome do deputado, porque ele faz isto precisamente para chamar a atenção e já tem demasiada atenção. Mas a questão é: terá ido ele fazer algum teste genético a quem estava nas galerias ou é simplesmente o preconceito que dita que um cigano não poderia ser polícia nem bombeiro? E, no caso de alguma daquelas pessoas ser cigana, por que razão ninguém se incomoda com o terem de viver com o estigma de dividir a sua existência, não passarem por ciganos se forem polícias ou bombeiros ou de qualquer outra profissão e terem de ouvir as piores coisas sobre as suas origens se forem ciganos?
Disse que não me interessa o nome do deputado porque, no caso, a raiz do nosso problema não está só nele. É na naturalidade com que muitos acham que sobre os ciganos se pode dizer tudo.
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