Fui ao mar buscar laranjas





O título de hoje pedi emprestado a Pedro da Silveira. O poeta açoriano usou o mesmo para a publicação da sua obra poética, inspirado no cancioneiro popular das ilhas de bruma. A quadra completa é um aviso importante em tempos de pleito eleitoral: “Fui ao mar buscar laranjas, / Que é coisa que lá não tem; / Fui enxuto, vim molhado, / Nem sequer vi o meu bem”.

...

Pedro Filipe Soares 

No Expresso // Opinião 

Essa lembrança (poema)

 












Essa lembrança que nos vem às vezes…

folha súbita

que tomba

abrindo na memória a flor silenciosa

de mil e uma pétalas concêntricas…

Essa lembrança…mas de onde? de quem?

Essa lembrança talvez nem seja nossa,

mas de alguém que, pensando em nós, só possa

mandar um eco do seu pensamento

nessa mensagem pelos céus perdida…

Ai! Tão perdida

que nem se possa saber mais de quem!


Mário Quintana

in “A Cor Invisível”

Opiniões

 

NO Observador 

Fotografia do Colunista
Luís Rosa

Serão necessários mil recursos de Sócrates?

O autismo político dos partidos 

do centro é de tal ordem que será

 necessária a prescrição da 

Operação Marquês para que PS

 e PSD percebam a inoperância

 da Justiça nos grandes casos de

 corrupção.

Fotografia do Colunista
Vânia Sousa Lima

Alabama got me so upset

Na madrugada (hora portuguesa) 

de 26 de Janeiro de 2024, “Alabama 

got me so upset”. O foco no gáudio 

em torno da inovação do método

 utilizado para a execução de 

Keneth Smith é requinte de

 malvadez.

30 de janeiro de 2024

Tudo se transforma

Cá na minha cozinha, qualquer resto dá uma outra refeição. 

Os restos de frango assado ontem, hoje transformaram-se num delicioso "frango à Brás ", parente do famoso "bacalhau à Brás".












É a Lei de Conservação das Massas, do Senhor Lavoisier. 👌

Eu bebo, os brasileiros (d)escrevem


 










Caio Fernando sabia como se pede: “Um café e um amor. Quentes, por favor.” Clarice Lispector não curava a sua insónia, alimentava-a: com café. Levantava-se a meio da noite, ia à janela, apreciava o silêncio e a quietude da madrugada. Achava a insónia um dom. Gostava da solidão das horas quietas. À mão e por companhia, sempre o mesmo: “E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada.”



Para ti (poema)












 Foi para ti 

que desfolhei a chuva 

para ti soltei o perfume da terra 

toquei no nada 

e para ti foi tudo 


Para ti criei todas as palavras 

e todas me faltaram 

no minuto em que talhei 

o sabor do sempre 


Para ti dei voz 

às minhas mãos 

abri os gomos do tempo 

assaltei o mundo 

e pensei que tudo estava em nós 

nesse doce engano 

de tudo sermos donos 

sem nada termos 

simplesmente porque era de noite 

e não dormíamos 

eu descia em teu peito 

para me procurar 

e antes que a escuridão 

nos cingisse a cintura 

ficávamos nos olhos 

vivendo de um só 

amando de uma só vida


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas" 

Antissemitas

O silêncio com que demonstrações públicas de antissemitismo foram recebidas em Portugal é, numa palavra, arrepiante. Noventa anos depois de Hitler, numa democracia cinquentenária como a nossa, as ruas portuguesas viram cartazes com inscrições como “Não queremos ser inquilinos de sionistas assassinos” em Lisboa ou “Nem em Haifa nem na Boavista, fora o capital sionista” no Porto.

Dos partidos que estiveram nestas manifestações, supostamente dedicadas à crise na Habitação, não se ouviu uma palavra de demarcação. Nem do PCP, nem do Livre, nem do Bloco de Esquerda. Dos partidos de Governo, tão pouco.

Sebastião Bugalho 

Expresso

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Cabeça de lista do PS pelo círculo do Porto, Francisco Assis considerou que os cartazes, exibidos numa manifestação pelo direito à habitação na cidade Invicta, "filiam-se na propaganda nazi do senhor Goebbels".

O dirigente socialista Francisco Assis condenou esta segunda-feira a presença de dois cartazes antissemitas numa manifestação pelo direito à habitação realizada no Porto, no sábado, e acusou os autores desses cartazes de pertencerem a uma extrema-esquerda "imbecil e semianalfabeta".

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Infelizmente, também há cá disso (antissemitas, imbecis e analfabetos de história)❗

Opiniões

 No Observador 

Fotografia do Colunista
Helena Garrido

Temos de falar de imigração

Temos andado a atirar lenha para

a fogueira dos sentimentos 

anti-imigração. Os partidos que 

combatem o radicalismo têm de 

nos falar sobre esse tema na 

campanha eleitoral.

Fotografia do Colunista
Nuno Gonçalo Poças

A doença nacional do fartismo

É da degradação institucional que

em boa parte se fundamenta a 

razão pela qual tanta gente parece

estar farta disto sem que se consiga

materializar o que «isto» é.

Fotografia do Colunista
Miguel Santos Carrapatoso

Agarrados à cabala

PS e PSD têm de olhar para dentro

de casa e ter finalmente a coragem 

de perceber que há qualquer coisa 

errada quando continuam a ser

frequentados por gente pouco 

recomendável. A cabala não chega.

29 de janeiro de 2024

Confessional (poesia)

 













NADANDO NUS

Na vertente sudoeste de Capri
encontrámos uma pequena gruta desconhecida
onde não havia pessoas e
entrámos nela completamente
e deixámos que os corpos perdessem toda
a solidão.

Todos os peixes que tínhamos em nós
tinham fugido por um minuto.
Os peixes a sério não se importaram.
Não lhes perturbámos a vida pessoal.
Vagueámos calmamente sobre eles
e debaixo deles, soltando
bolhas de ar, pequenas e brancas,
balões, subindo, disseminando-se
rumo ao sol junto ao barco
onde o barqueiro italiano dormia
com o chapéu sobre o rosto.

Água tão límpida que podíamos
ler um livro através dela.
Água tão viva que podíamos
flutuar, apoiados no cotovelo.
Deitei-me nela como num divã.
Deitei-me nela tal e qual como
Odalisca Vermelha de Matisse.
A água era a minha flor estranha.
Tem de se imaginar uma mulher
sem uma toga ou um lenço
num divã tão profundo quanto uma tumba.

As paredes daquela gruta
eram de todosostons de azul e
tu disseste, “Olha! Os teus olhos
são da cordomar. Olha! Os teus olhos
são da cordocéu.” E os meus olhos
fecharam-se como se ficassem
subitamente envergonhados.

Anne Sexton

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Em 1967, Sexton foi galardoada com o Prémio Pulitzer por Live or Die, apenas uma das muitas distinções que recebeu: a Frost Fellowship to the Bread Loaf Writers’ Conference (1959), o Radcliffe Institute Fellowship (1961), o Levinson Award (1962), uma bolsa da Academia Americana de Artes e Letras (1963), o Shelley Memorial Award (1967) e um convite para fazer a «Palestra Morris Gray» em Harvard. Obteve distinções da Fundação Guggenheim, da Fundação Ford, doutoramentos honoris causa e foi nomeada professora universitária na Universidade de Boston. Ensinou também poesia em Harvard e Radcliffe, sem ter formação académica.

Há eleições na América

Também na América, há eleições. E opiniões. 




Este cartunista (
Christopher Weyant) mostra a sua.




Faróis (poesia)




 Faróis distantes,

De luz subitamente tão acesa,
De noite e ausência tão rapidamente volvida,
Na noite, no convés, que conseqüências aflitas!
Mágoa última dos despedidos,
Ficção de pensar...

Faróis distantes...
Incerteza da vida...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido...

Faróis distantes...
A vida de nada serve...
Pensar na vida de nada serve...
Pensar de pensar na vida de nada serve...

Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
Faróis distantes ...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

À PROCURA DO CANDIDATO IDÓNEO

 



A hesitação do Presidente da República chegou ao fim. Assim que, constitucionalmente, lhe for possível, Marcelo Rebelo de Sousa vai dissolver o parlamento regional da Madeira, convocando eleições regionais. É mais um parlamento a cair, na sequência de um processo judicial. Com isto, este ano, teremos - até ver… - quatro atos eleitorais: Regionais nos Açores; Legislativas; Europeias e, algures por aí, Regionais na Madeira.


Talvez o melhor conselho que se possa dar aos futuros candidatos,  seja o que o escritor Mark Twain foi escrevendo numa série de crónicas (satíricas, convém sublinhar, num tempo em que interpretação dos textos não consegue ir além da literalidade) em vários jornais do estado de de Nova Iorque (1867-1887), as quais foram reunidas em livro: “Um Candidato Idóneo” (Antígona).


Para não se deixar “ferir por investigações ao seu passado”, o melhor, aconselhou Twain, é que se saiba logo “o pior acerca de um candidato”. Assim, continuou, “todas as tentativas de o surpreender serão derrotadas”. O mais avisado é confessar todas as “maldades”. O próprio deu esse passo: “O boato de que eu teria enterrado uma tia debaixo da minha videira é autêntico. A vinha precisava de adubo, a tia precisava de ser enterrada, e eu consagrei-a a este nobre propósito”.


Luís Montenegro bem poderia retirar algum ensinamento desta estratégia e arrumar o assunto da casa demolida, reconstruída, renovada, com ou sem faturas… tudo dependerá da perspetiva estética de cada um. Na Madeira, qualquer que seja o sucessor de Miguel Albuquerque, também deveria acontecer o mesmo: confessar, à partida, todas as ligações com empresários locais, não vá a Polícia Judiciária começar a investigar e até provocar o acordar do sono profundo do ex-Procurador Geral, Cunha Rodrigues.


Com tantos ex-ministros nas listas de deputados, Pedro Nuno Santos só ganharia em promover uma teria de grupo pública, de forma a que, cada um, expusesse o que andou a fazer no Verão passado. Convém contar tudo agora e não depois de tomar posse, como o Carla Alves e o visionário do pavilhão transfronteiriço de Caminha, Miguel Alves.

...


Carlos Rodrigues Lima 

Visão do Dia 

Opiniões

 No Observador 


Fotografia do Colunista
Eduardo Sá

Divórcio grisalho

Não, não somos nós quem envelhece.

É a forma como, assustadoramente,

sem surpresa, o namoriscar se 

divorcia de nós. E, quase sem queixa,

 a isso diz-se que sim. E quase tudo

 se deixa.



Fotografia do Colunista
Diogo Simões Pereira

PISA: prioridade ao rejuvenescimento dos docentes

O rejuvenescimento dos docentes

 deveria vir a constituir uma das

 grandes prioridades dos 

programas eleitorais para 10 

de Março e, depois, das políticas

 orçamentais para a próxima 

década.

28 de janeiro de 2024

Estes foram os momentos

Foram os momentos em que o PSD perdeu, indiscutivelmente, os votos dos reformados. 









Cavaco Silva disse, na televisão (2012), que a sua reforma mal chegaria para as despesas. 

Foi duas vezes PM e também fez dois mandatos de Presidente da República.

Foi insuportável de se ouvir.

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O deputado do PSD Carlos Peixoto, em 2013, no jornal i, referiu-se ao fenómeno do envelhecimento como a "peste grisalha".  Provocou uma onda de indignação.

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Passos Coelho, no Jornal de Negócios, (17 de Abril de 2015), quis também explicar a decisão anunciada na véspera de apresentar um corte de 600 milhões de euros nas pensões como hipótese de reforma. "Temos um problema na Segurança Social. Ele é indesmentível. O Tribunal de Contas, o Tribunal Constitucional e todos os que estudam as nossas contas públicas admitem que há um problema, principalmente nas pensões públicas", explicou. 


Nomeados em conjunto

 

É difícil pensar em dois homens mais diferentes na história e na vocação do que São Pedro e São Paulo. No entanto, não só são lembrados como dois baluartes da fé e símbolos da própria Igreja Católica, como até partilham o mesmo dia de festa, 29 de Junho.

Nessa data, em 67 D.C. São Pedro e São Paulo teriam sido martirizados em Roma durante as perseguições ordenadas pelo Imperador Nero contra os cristãos. 

É plausível que a escolha de comemorar a morte dos santos Pedro e Paulo no dia 29 de Junho resulte do desejo de converter uma festa pagã numa celebração cristã, como tem acontecido ao longo dos séculos em muitos outros feriados religiosos. De facto, 29 de junho coincidiu com a festa de Rómulo e Remo, os fundadores de Roma. Os cristãos provavelmente queriam prestar homenagem aos dois fundadores da Igreja nesse mesmo dia, como se fosse para celebrar o nascimento de uma nova Roma cristã.

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A contrario sensu, nós temos um dizer em Português, para quando comparamos duas pessoas com os seus defeitos: "tão bom é Pedro como é Paulo".

Tem um sentido de desconsideração. 

É aparentada com a outra nossa expressão "venha o diabo e escolha".


Fonte (poesia)



 


Ela é a fonte. Eu posso saber que é

a grande fonte

em que todos pensaram. Quando no campo

se procurava o trevo, ou em silêncio

se esperava a noite,

ou se ouvia algures na paz da terra

o urdir do tempo —

cada um pensava na fonte. Era um manar

secreto e pacífico.

Uma coisa milagrosa que acontecia

ocultamente.


Ninguém falava dela, porque

era imensa. Mas todos a sabiam

como a teta. Como o odre.

Algo sorria dentro de nós.


Minhas irmãs faziam-se mulheres

suavemente. Meu pai lia.

Sorria dentro de mim uma aceitação

do trevo, uma descoberta muito casta.

Era a fonte.


Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.

A lua formava-se

com uma ponta subtil de ferocidade,

e a maçã tomava um princípio

de esplendor.


Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento

perdeu-se e renasceu.

Hoje sei permanentemente que ela

é a fonte.


Herberto Hélder 




Agora nunca é tarde (poesia)

 Ver poema completo

👇

Cada um de nós nasce com um artista lá dentro 

Cada um de nós nasce

Com um artista lá dentro

Um poeta, um escultor, um aventureiro

Um cientista, um pintor, um arqueólogo

Um estilista, um astronauta, um cantor

Um marinheiro

E o sonho e a distância, e o tempo e a saudade

Deram-nos vida, amor, problemas, mentiras e verdade

E damos por nós mesmos descobrindo que agora

Agora se calhar, já é um pouco tarde

...

Pedro Barroso 

Opiniões

 No Observador 

Fotografia do Colunista
Tiago de Oliveira Cavaco

Gostar de aparecer

Uma das formas mais comuns de

 aparecer é a que acontece quando

 nos vemos ao lado das pessoas já

 consensualmente aparecidas aos

 olhos de tantos.Temos uma 

 paixão por famosos porque eles

 vivem aparecidos.

Fotografia do Colunista
Miguel Tamen

O melhor diário

Ao ler todos os dias as duas séries

 do Diário da República repetimo-

-nos avisos, leis, preâmbulos, 

murmúrios de metafísicas, listas,

 reprimendas e contas: coisas 

 para a eternidade, coisas para

 ontem.