30 de julho de 2024

No teu poema























No teu poema

Existe um verso em branco e sem medida 

Um corpo que respira, um céu aberto 

Janela debruçada para a vida


No teu poema existe a dor calada lá no fundo 

O passo da coragem em casa escura 

E, aberta, uma varanda para o mundo.


Existe a noite

O riso e a voz refeita à luz do dia 

A festa da Senhora da Agonia 

E o cansaço

Do corpo que adormece em cama fria.


Existe um rio

A sina de quem nasce fraco ou forte

O risco, a raiva e a luta de quem cai 

Ou que resiste

Que vence ou adormece antes da morte.


No teu poema

Existe o grito e o eco da metralha

A dor que sei de cor mas não recito

E os sonos inquietos de quem falha.


No teu poema

Existe um cantochão alentejano

A rua e o pregão de uma varina

E um barco assoprado a todo o pano

***

Ary dos Santos 

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