28 de agosto de 2024

Confidencial (poesia)

 


Não me perguntes, porque nada sei

Da vida,

Nem do amor,

Nem de Deus,

Nem da morte.


Vivo,

Amo,

Acredito sem crer,

E morro, antecipadamente

Ressuscitando.


O resto são palavras

Que decorei

De tanto as ouvir.

E a palavra

É o orgulho do silêncio envergonhado.


Num tempo de ponteiros, agendado,

Sem nada perguntar,

Vê, sem tempo, o que vês

Acontecer.


E na minha mudez

Aprende a adivinhar

O que de mim não possas entender.


Miguel Torga

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