15 de novembro de 2024

E o teu silêncio (poesia)


 Eis como tudo

entra de súbito

pelas palavras:

a terra e o mar

as mãos e as vozes.

Tua guitarra.

Teu génio.


E o teu silêncio

é de súbito um sino

tocado pelo vento

em todas as aldeias do meu sangue.


Porque tudo começa onde começas

porque tudo se chama o nome do teu nome

porque tudo se escreve com a tua história.


Porque tu estás em tudo o que circula

e tudo tem o preço do teu sangue.

Porque tu moves com teus ombros as cidades

tocaste a pedra e a pedra fez-se casa

tocaste o bosque e o bosque fez-se barco.


Porque um país tem o tamanho dos seus homens

e o meu país tem o teu tamanho e nada mais.

Porque nada é tão grande como as tuas mãos:

oitenta e nove mil quilómetros quadrados.

O céu e o mar. E todos os navios.

E todos os poemas.


Manuel Alegre

O Canto e as Armas

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