8 de novembro de 2024

Quero solidão (poesia)

 


Despedida


Por mim, e por vós, e por mais aquilo que está

onde as outras coisas nunca estão, 

deixo o mar bravo e o céu tranquilo: 

quero solidão.


Meu caminho é sem marcos nem paisagens. 

E como o conheces? - me perguntarão. 

- Por não ter palavras, por não ter imagens.

 Nenhum inimigo e nenhum irmão.


Que procuras? - Tudo. 

Que desejas? - Nada. 

Viajo sozinha com o meu coração. 

Não ando perdida, mas desencontrada. 

Levo o meu rumo na minha mão.


A memória voou da minha fronte. 

Voou meu amor, minha imaginação... 

Talvez eu morra antes do horizonte. 

Memória, amor e o resto onde estarão?


Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.

 (Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! 

Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.


Cecília Meireles 

No livro Flor de Poemas

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