12 de janeiro de 2025

onde morrem as gaivotas



como não tenho lugar no silêncio onde morrem as gaivotas, despeço-me no oceano e deixo que o céu me conheça.

talvez a serenidade possa ser as minhas mãos a serem uma brisa sobre a terra e sobre a pele nua de uma mulher.

esse dia, esperança de amanhã, poderá chegar e estarei dormindo.

hoje, sou um pouco de alguma coisa, sou a água salgada que permanece nas ondas que tudo rejeitam e expulsam na praia. 

as gaivotas sobrevoam o meu corpo vivo. 

os meus cabelos submersos convidam o silêncio da manhã, raios de sol atravessam o mar tornados água luminosa. 

aqui, estou vivo e sou alguém muito longe.


José Luís Peixoto

in [A Criança em Ruínas]

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