13 de setembro de 2024

As mulheres

As mulheres, quando enamoradas, beijam como se tocassem deuses e andam em pontas, como quem dança, para não acordar os espinhos que dormem nas frestas das casas e nas grutas onde a paixão mora.

Chamam lar ao coração, banham-se nas goteiras da ternura e fazem dos corpos fragatas onde os braços são remos segurando a vida.

As mulheres escondem as mágoas debaixo dos tapetes e cozinham amarguras como se fossem feiticeiras.

De noite transfiguram-se em astros deslumbrados onde mora a audácia e abrem as vidraças do corpo para que as fagulhas da luxúria avermelhem o chão.

Quando o amor chega e lhes exige o seio alvo em alegria se entregam para morrer.

As mulheres têm atalhos no peito, furnas onde choram sozinhas, muros onde se rasgam, corolas de flores onde se adoçam.

Cuidado, porém, ao pisar o coração de uma mulher.

Ela pode transformar-se em arcanjo de fogo e maldição.


Maria Jorgete Teixeira


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A autora:

Participou em várias antologias e tem publicações em alguns jornais e revistas . Publicou: O coração é puta sempre à espera, (prosa poética), Alfarroba, 2015; Mulher à beira de uma largada de pombos, à volta das canções de José Afonso, (conto), Alfarroba, 2017; A Solidão das Dunas, (poesia), Amazon, 2019.

Em 2018, o conto "O retrato" foi seleccionado para a Antologia "A Festa" do Centro Mário Cláudio; Em 2019 e 2020, "Livra-te do Medo" e "A Clave de Sol" obtiveram, respectivamente, o 2º e 1º lugares, nos Concursos de contos promovidos pelo Museu do Aljube.

Em 2022, foi uma das selecionadas pelo edital Linha de Apoio à Edição no Brasil da DGLAB, com apresentação na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, 2022, do livro "Mulher à beira duma largada de pombos".

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