26 de setembro de 2024

Mais de José Luís Peixoto

 


um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,

acordarei entre os teus braços. 
a tua pele será talvez demasiado bela.

e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.

um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for tão distante, 

quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um velho, 

estarei contigo e cantarão pássaros 
no parapeito da nossa janela. 
sim, cantarão pássaros, haverá flores, 

mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços 

e não direi nem uma palavra, nem o principio de uma palavra, 

para não estragar a perfeição da felicidade.

José Luís Peixoto

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