Recorte de Imprensa
Escrevo do bairro gótico em Barcelona. Em 1931, da varanda da câmara municipal aqui à minha frente, Francesc Macià, vencedor das eleições autárquicas, proclamou a independência da Catalunha. A histórica declaração de 279 palavras já foi estudada por toda a gente de todas as formas. Mas há uma frase, logo no começo, que chama a atenção: Interpretant el sentiment i els anhels del poble que ens acaba de donar el seu sufragi, proclamo la República Catalana com Estat integrant de la Federació ibérica.
Ao defender a independência da Catalunha, Francesc Macià também era apologista da sua integração numa federação de estados ibéricos, com Portugal.
É um tema interditado em Portugal. Nenhum partido político defende o iberismo como bandeira. Nenhuma organização não governamental defende esta causa. Nenhum académico dá publicamente a cara pelo tema. Os nossos quase mil anos de história independente, os 150 castelos na fronteira que nos defenderam de Castela e Leão e a vileza com que Espanha uniu as duas coroas entre 1580 e 1640 despertam em nós um ardor patriótico. Eu, que cresci perto da fronteira pré-Schengen de costas voltadas para Espanha, sinto-o também. Uma união ibérica provoca-nos uma reação somática, com regurgitação, hematémese e vómito bilioso.
Mas durante todo o século XIX, os dois lados da fronteira discutiram uma integração económica, cultural e até política.
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