***
A memória foi despertada pela notícia de que J. D. Vance chegou ao Médio Oriente. Trump, já desinteressado da parte da paz ou da guerra do seu plano e sem paciência para esperar pela hotelaria e o board de que é presidente, farto de tiros e de sublevação, enviou o vice. O vice, talvez um dos homens na Administração que menos sabe, percebe, conhece ou leu o que quer que seja sobre Médio Oriente. Vance, um hillbilly gerado e nutrido pelas maleitas e ressentimentos da classe branca pobre americana, destituído de curiosidade pelo mundo e fortificado por uma ambição sem limites, que o fez passar de considerar Trump um Hitler até ser considerado por Trump como o seu número dois. Desembarcou na chamada “região”.
Quem quer ser Presidente dos Estados Unidos sabe que tem de apanhar um avião para Telavive, e ele quer muito vir a ser Presidente dos Estados Unidos. Pode ser que consiga, tem amigos poderosos e aliados políticos ainda mais poderosos que o empurrarão no carrossel tecnológico do século XXI. Peter Thiel, inventor e investidor nas empresas de defesa mais rentáveis de Silicon Valley, Anduril, Palantir e afins, muito gostaria de o ver sentado na Sala Oval. Trump é errático e inconsequente, Vance seria determinado e consequente.
Vance ao Médio Oriente, porque não? Já tanta gente passou por ali, andou por ali, opinou por ali, lutou por ali, protestou por ali, morreu por ali e de um modo geral asneirou por ali, boicotou por ali, matou por ali, e odiou por ali, que mais um menos um não faz mal.
Fui atrás da memória e recordei o almoço, almoços, em Jerusalém, na Cidade Velha, dentro das muralhas. A cidade das pedras salpicadas com sangue há milénios, das preces e das igrejas, dos templos e dos três deuses que não gostam de concorrência. Ditos monoteístas.
Nessa cidade, apesar da refrega contínua, das pedras e das pedradas, das facadas, dos soldados armados e dos zelotas zangados, persiste uma beleza intemporal e difícil de explicar. Uma atração particular, que só funciona se se ficar lá dentro o tempo suficiente para a descobrir e apreciar. Os mais malucos começam a ter revelações dentro das conspirações, uma doença passageira ou não chamada síndrome de Jerusalém. Começam a ver deus e o diabo em todas as esquinas e becos, começam a enlouquecer de mansinho.
***
No EXPRESSO 👈👈
Sem comentários:
Enviar um comentário