12 de fevereiro de 2009

Citando

Entre os escombros
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Às vezes, e esse às vezes deve ter a ver com a idade como com um penchant para a nostalgia e para o fatalismo, olhamos para os nossos objectos com uma presciência estranha: hão-de sobreviver-nos, hão-de ser para outros a talvez incómoda, talvez demasiado espaçosa memória de nós, hão-de ser avaliados e distribuídos como avaliámos e distribuímos a memória de outros. Alguém escolherá entre as nossas coisas o que vale a pena guardar e o que é lixo, alguém decidirá por nós. É como uma estranha forma de sobrevida, talvez a única disponível: uma fotografia antiga, um móvel na casa de um neto, uma carteira de lagarto na mão de uma sobrinha, cartas de amor numa gaveta.

Fernanda Câncio
in Notícias Magazine (01/02/09)

4 comentários:

sonia disse...

já pensei muito sobre esse assunto. Fico mais cismada ainda quando penso no que farão com meus cadernos, onde há poesias feitas por mim na idade em que estava cheia de ilusões, guardados que enchem algumas caixas grandes, muitas fotos, mas o que mais me deixa triste é saber que meus queridos livros cairão em mãos que muito provavelmente não darão a importância que eu dei a eles. Meus escritores prediletos, Proust, Oscar Wilde, Somerset Maugham, Vergílio Ferreira, Kafka( ah!, Kafka), Clarice Lispector, e tantos mais...minha biblioteca é o local mais precioso de minha vida, e tudo vai se perder...que pena!

antónio paiva disse...

...

depois de partirmos são os que ficam a decidir como e o que de nós é mais "relevante".

beijinho.

Ana disse...

Sonia, bem entendo - há uma paixão pelos livros. Ainda assim, quanto a mim, o local mais precioso da minha vida é o meu coração, onde quardo ciosamente os que me são queridos e as lembranças de todos os momentos felizes que os anos me foram dando. Incluo nisso o prazer que me deram as palavras lidas ou ouvidas que me enriqueceram, as imagens que me fascinaram, os sons que me encantaram. O que ficar depois, espero que sejam memórias boas naqueles que amei. Coisas materiais, não me importam.
Um abraço e a minha gratidão pela gentileza de vir de visita e comentar.

Ana disse...

António, amigo querido, relevante de nós, é o que se sente enquanto vivemos. E as lembranças boas que deixarmos naqueles que se cruzaram nas nossas vidas.