Depois de tanto tempo ausente daqui, volto a esta minha margem.
E à margem do Tejo. Onde estive há pouco e está escrito:
O rio da minha aldeia
não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele
só está ao pé dele.
A minha aldeia é Lisboa e vou muito para a margem do rio. Estou ao pé dele, encanta-me, mas deixa-me pensar em muitas coisas. Observo, penso.
Deu-me hoje para pensar em como ficamos velhos. E cheguei a algumas conclusões breves, não exaustivas de como e quando ficamos velhos:
- quando atar os sapatos, cortar as unhas dos pés, mudar uma lâmpada começam a ser tarefas difíceis,
- quando as nossas preocupações são as lides domésticas, as consultas e os exames médicos, a conta da farmácia e o poupar tostões para que o dinheiro chegue ao fim do mês,
- quando temos o guarda-roupa cheio e nos arranjamos para sair, temos sempre um ar démodé, um cheiro a naftalina e a passado,
- quando tiramos o passe social da 3ª idade e perdemos horas nas paragens dos transportes ou as queimamos sem destino e sem objectivo,
- quando fazemos balanços à vida e sentimos sempre que ela nos foi madrasta e se esvaiu em três tempos,
- quando falamos com estranhos sempre que possível porque os laços íntimos e próximos se nos foram quebrando e sentimos ainda - e sempre - a necessidade de atenção, pertença e estima,
- quando olhamos as fotografias que estão nas molduras e elas a fitar-nos amarelecidas, cobertas por uma ténue cortina de tempo passado,
- quando, de repente, começa a bater-nos no pensamento, como uma obsessão inelutável, o poema "a vida é ai que mal soa",
Aí sabemos, de um saber profundo, como é triste ser velho - em qualquer lado. Mais ainda, talvez, na cidade grande...
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