30 de dezembro de 2024

Antes que seja tarde (poesia)

 








Amigo,

tu que choras uma angústia qualquer

e falas de coisas mansas como o luar

e paradas

como as águas de um lago adormecido, acorda!


Deixa de vez

as margens do regato solitário onde te miras

como se fosses a tua namorada.

Abandona o jardim sem flores

desse país inventado onde tu és o único habitante.

Deixa os desejos sem rumo de barco ao deus-dará 

e esse ar de renúncia às coisas do mundo.


Acorda, amigo,

liberta-te dessa paz podre de milagre que existe

apenas na tua imaginação.


Abre os olhos e olha,

abre os braços e luta!

Amigo,

antes da morte vir nasce de vez para a vida.


Manuel (Lopes) da Fonseca

"Poemas Dispersos"



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