No Expresso
Taxar os ricos, magoar os felizes, tardar os rápidos, ajoelhar os altos, não prenuncia nenhuma boa nova para os pobres. Só as políticas públicas espertas, se possível inteligentes, podem atacar o maior inimigo da democracia liberal, a persistência da pobreza.
A pobreza é uma desigualdade, mas nem toda a desigualdade é pobreza. Ou seja, a pobreza é a pior das desigualdades, corresponde não apenas a uma distância em relação a um rendimento razoável, mas um abaixamento aquém do limiar de uma vida decente. A pobreza é uma descontinuidade marcante na diferença, uma diferença superlativa, uma carência. Falamos de rendimento, naturalmente. Há outras pobrezas, piores, não materiais, até mais democráticas. Por outro lado, a desigualdade de rendimentos não corresponde a maior pobreza. Empiricamente, quase todos os países que experimentam um crescimento sustentado veem a desigualdade de rendimentos aumentar, mesmo quando a pobreza diminui. Os países pobres são menos desiguais, mas essa igualdade na pobreza não é boa notícia, é uma condição desejada apenas pelos ascetas intransigentes, os religiosos radicais, os anacoretas extremos ou os ideólogos mais misantropos. Já lá vamos.
***



Sem comentários:
Enviar um comentário