29 de julho de 2024

Adeus (poesia)



É um adeus

Não vale a pena sofismar a hora!

É tarde nos meus olhos e nos teus


Agora,

O remédio é partir discretamente,

Sem palavras,

Sem lágrimas,

Sem gestos.


De que servem lamentos e protestos

Contra o destino?

Cego assassino

A que nenhum poder

Limita a crueldade,


Só o pode vencer a humanidade

Da nossa lucidez desencantada.

Antes da iniquidade

Consumada,


Um poema de líquido pudor,

Um sorriso de amor,

E mais nada.


Miguel Torga

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