21 de julho de 2024

Virgínia do Carmo (poesia)













Não há lugares seguros

Não estamos a salvo, ainda.
Nem dos desfazeres do mundo,
nem dos atrasos da paciência.
Não há lugares seguros onde guardar
equívocos. Nem âncoras que bastem
ao arrasto da solidão.

Não estamos ainda em terra. Não há
farol nem costa. E somos frágeis demais
para tanto mar. Para tanto abismo.
Para tanto.

Não estamos a salvo, ainda.
Nem das coisas inevitáveis.
Nem das coisas sérias e óbvias.

Não há lugares seguros neste mundo.

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São de vidro as pétalas que me rebentam na boca. 

Não há grito ou palavra que não se rasgue quando o mundo me chega aos lábios.

Até o silêncio sangra quando o pensamento me atravessa a língua para chegar ao coração.

Um dia o meu íntimo será feito apenas de poemas esgaçados.


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