16 de outubro de 2024

De Miguel Torga

 

Flor Preservada


Colho, maravilhado,

A flor do teu sorriso;

E tudo à minha volta

Se transfigura:

O céu é um mar azul onde navegam aves;

E as montanhas, suaves

Ondulações

Do grande berço maternal do mundo.

Perturbado,

Confundo

As sensações;

E apenas sei que a vara de condão

É o sol de pétalas que me aquece a mão.


Filha:

Os poetas são loucos.

E poucos

Acreditam

Que a loucura

É o dom do eterno em cada criatura. 


Mas neste testemunho comovido, 

Neste poema erguido 

Sobre a campa das horas 

Como um facho de luz inconformada, 

Terás, intacta, pela vida fora 

A rosa da inocência que és agora.


MIGUEL TORGA in DIÁRIO VIII

ANTOLOGIA POÉTICA

No século passado

 Era assim o Portugal de outro século 












Um Portugal muito rural e muito pobre. Depois de Abril de 1974 a evolução foi grande. 

Não está tudo feito, a pobreza ainda existe, mas o rosto do País mudou.

Opiniões

 No Observador 

Fotografia do Colunista
João Miguel Miranda

A importância da oposição interna

Enquanto militante do Partido

Socialista, estou muito insatis-

feito com o novo rumo do partido. 

Vê-lo resvalar para a uniformi-

dade de pensamento é muito

 alarmante.

Fotografia do Colunista
Maria João Avillez

Afinal, Portugal raramente foi mais do que “isto”

Não há um português que suporte 

um minuto mais “disto”. Dançaram-

-se demasiadas valsas no verão, 

o outono continuou com polcas 

desastradas mas ambas, valsas e 

polcas, já não podem mais ser 

dançadas.

Estatística

 

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Como se eu fosse um búzio

 












A tua carne cantou em mim 

como se eu fosse um búzio 

e tu um mar em som, 

presente e longínquo.


É em ti que vive hoje ainda, 

a reavivar o instante sóbrio e perfeito 

que a noite trouxe em teus olhos debruçados

sobre a tua e a minha solidão?... 


Mas quando a noite a fechar-se 

chama do mar a bruma rumorejante, 

tuas mãos frias e recolhidas talvez ainda

tenham uma saudade muda para mim...


João José Cochofel

García Lorca

 



Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura,
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con los ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.


Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
Pero ¿quién vendrá? ¿Y por dónde?…
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.
***


Federico García Lorca 

Romancero gitano



15 de outubro de 2024

Fruta bela e gostosa

Na minha terra (serra algarvia) há bastantes medronheiros. 

O fruto é bonito e saboroso. Mas o uso comum do medronho é para fazer aguardente, através da destilação. E disso eu não gosto. Tem um elevado teor de álcool. 

Não aprecio

O mundo dos influencers não me interessa, não aprecio, acho assustador, principalmente em relação a crianças e adolescentes. 

Há uma indústria de maquilhagem para crianças e mães que a aplicam em meninas muito pequenas. 



Caso BES em julgamento

 Recorte de Imprensa 
































O antigo presidente do BES é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.


Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.

Por quem sois, Senhorias

 No Diário de Notícias 👈👈
































Este recorte de imprensa é 

Muitas visões distintas para o mesmo facto!




Lisboa tem paineiras

Essa foto é do jardim do Campo Mártires da Pátria. Mas existem paineiras noutros lugares da cidade. Fiquei a saber que, no Brasil de antigamente, elas tinham uma curiosa função utilitária. 

                    Mais informação aqui 👈👈

Opiniões

 No Observador 

Fotografia do Colunista
Rui Pedro Antunes

O Jornalixo e as perguntas xuxi

Pelas escolhas de entrevistas 

do primeiro-ministro, sabemos 

que Montenegro chama 'xuxi' 

à mulher, mas desconhecemos 

ainda, só para dar um exemplo,

quantas vezes e em que dias 

se reuniu com Ventura.

Fotografia do Colunista
José Diogo Quintela

Pedro Uno

PNS quer o partido a falar a 

uma só voz porque só um coro 

tão robusto consegue abafar o 

apito do amolador que já 

estacionou a bicicleta no largo 

do Rato.

Fotografia do Colunista
Miguel Miranda

Um pequeno dano colateral

Agora que o declínio parece 

inevitável e alguns dos nossos

melhores migram, são precisas

ideias inovadoras, claras,

inteligíveis, mobilizadoras. 

Creio que a saúde da economia

é o fator discriminante.

O ateu

 





O ateísmo acaba na hora que o médico diz... "temos que fazer uma biopsia".


******

O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.

Millôr Fernandes 

Revista Veja, Volume 27, Edições 36-43

Neruda - teu abraço


Em teu abraço eu abraço o que existe

a areia, o tempo, a árvore da chuva

E tudo vive para que eu viva:

sem ir tão longe posso vê-lo todo:

veio em tua vida todo o vivente.


Pablo Neruda

14 de outubro de 2024

Ele vigia

















O galo vigia e as galinhas banham-se na terra fresca que remexem com as patas... 👍

Tem estátua em Lisboa

                 GARCILASO DE LA VEGA

Garcilaso de la Vega, autodenominado Inca, nasceu em Cuzco em 1539, e publicou três obras em vida, dentre as quais a primeira parte dos Comentários Reais, obra que lhe rendeu o título de um dos mais completos cronistas da época colonial. Filho de um conquistador espanhol e de palla, uma inca de família nobre, recebeu esmerada educação, tanto em Cuzco quanto na Espanha, para onde se trasladou para seguir carreira militar aos 21 anos. Como capitão, participou da repressão aos mouros de Granada, no contexto das políticas espanholas de limpieza de sangre, pautadas nas práticas da Inquisição, tendo combatido pela coroa espanhola também na Itália. Em 1590, provavelmente decepcionado pela pouca consideração que lhe tinham nas Armadas devido ao fato de ser mestiço, deixa a vida militar e entra para a vida religiosa.


Informação DAQUI 

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Opiniões

 No Observador 

Fotografia do Colunista
José Ribeiro e Castro

A mentira pega-se e o resto também

Todos vemos que estão a mentir

e a alimentar um mero jogo de

palavras, feitas puro palavreado.

Mas ambos continuarão a 

alimentar um assunto que não

existe. Não haverá adultos na 

sala do Chega e do PS?

Fotografia do Colunista
Patrícia Fernandes

O hábito da confissão

Reconhecer que erramos antes 

de enfrentarmos os outros, e os 

seus erros, torna-nos mais

tolerantes e compreensivos e 

menos propensos a exigências

desregradas e reações violentas.

Fotografia do Colunista
José Meireles Graça

O Orçamento

De reformas nicles, de bodos

 às clientelas muito, e de 

salganhada fiscal, escalões 

disto e daquilo, reduções que 

talvez não o sejam, isenções 

a granel e aumento encapotado 

da punção fiscal – muito.

Fotografia do Colunista
Eduardo Sá

Matarmo-nos a trabalhar, sermos pagos para brincar

Aquilo que no século XXI se

pede ao trabalho é outra 

revolução. Agora de rosto 

humano. Que nos torne 

só pessoas que trabalhem 

o mínimo indispensável. 

Pessoas com vida. Com 

mundo.

Antipoesia

 


Advertencia

Yo no permito que nadie me diga

Que no comprende los antipoemas

Todos deben reír a carcajadas.


Para eso me rompo la cabeza

Para llegar al alma del lector.

Déjense de preguntas.


En el lecho de muerte

Cada uno se rasca con sus uñas.


Además una cosa:

Yo no tengo ningún inconveniente

En meterme en camisa de once varas.


Nicanor Parra

Versos de salón (1962)

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Antipoesia é um tipo de poesia de ruptura, concebida e desenvolvida principalmente pelo escritor chileno Nicanor Parra. Desta forma, Parra criou uma nova maneira de fazer poesia, mais objetiva, coloquial e permeada de expressões populares que se opunham à maneira predominante no seu país em meados do século XX, liderada fundamentalmente por Pablo Neruda, Vicente Huidobro e Pablo de Rokha.

Wikipédia 

Na caravana do cordel

Encontrei este CompadreLemos no Facebook. E achei interessante o que ele tem a dizer. 











[Brasil] Cordel --> Conjunto de folhetos literários populares, que os livreiros originalmente dependuravam em cordéis; literatura de cordel.


"cordel", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa 

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Ainda jovem comecei a conhecer o Nordeste do Brasil, através da leitura de Graciliano Ramos. 

Tradutor de obras em inglês e francês e honrado com diversos prémios em vida, a obra de Graciliano Ramos recebeu riqueza da crítica literária e atenção do mundo académico. O seu romance modernista também conhecido como regionalista Vidas Secas é visto como um clássico da literatura brasileira.


Mais tarde, já tive o privilégio de ter ido conhecer gentes e lugares ao vivo e a cores, como se costuma dizer (in loco), nesta região e também mais a sul.

Voo sem pássaro dentro

 POESIA


A poesia não é voz é uma inflexão. 

Dizer, diz tudo a prosa. No verso nada se acrescenta a nada, 

somente um jeito impalpável dá figura 

ao sonho de cada um, 

expectativa das formas por achar. 

No verso nasce à palavra uma verdade 

que não acha entre os escombros da prosa 

o seu caminho.

E aos homens um sentido que não há nos gestos nem nas coisas:

voo sem pássaro dentro. 


Adolfo Casais Monteiro, 

Poesias completas, 1993.

Lágrimas

 Lágrimas 


"Tenho a teoria de que, quando uma pessoa chora, nunca chora pelo que chora, mas sim por todas as coisas pelas quais não chorou em seu devido momento."

13 de outubro de 2024

Leitores do blogue

 

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Fumador de Sueños


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 Vivir es arrancar a las palabras de sus sillones limpios, cargarlas a la espalda en la mochila chica de la errancia sin vuelta y quemarse con ellas en la hoguera del delirio feroz, en la extática danza de santa Gasolina Mental y Libertaria, donde los esqueletos pulidos de las aves cantan a las estrellas y las estrellas hablan solamente a las místicas y al Fumador de Sueños.


Aurora Luque

DICIONÁRIO

"O grande livro de amor de quem como eu só teve uma escola primária: o dicionário. Dicionário é um livro de amor, meu livro de amor. Eu fazia doce, mas meu dicionário estava na mesa da cozinha: cheio de melado, de dedada de manteiga, de melado, de gema de ovo. E me valeu. Hoje, jovem não abre dicionário, jovem não abre dicionário."

Cora Coralina

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O dicionário também foi o meu livro mais manuseado, até certa altura.

Deixou de sê-lo quando passei a ter Internet na palma da mão. 

Facilitismos!