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Também por cá, prossegue alegremente a febre da construção em massa, quando deveríamos apostar na reabilitação do muito, imenso, parque imobiliário degradado. Percorra-se Lisboa, sobretudo a sua zona oriental, veja-se a quantidade infinda de armazéns e fábricas ao abandono, terrenos vazios convertidos em lixeiras, espaços que bem poderiam ser reaproveitados para habitação jovem ou outras finalidades úteis. Era tempo, era mais do que tempo, de canalizar os dinheiros do PRR para fazer um cadastro predial à séria, rústico e urbano, pois, por mais estranho que pareça, Portugal não se conhece, sendo verdadeira terra incognita: nem o Estado, nem os particulares sabem que terrenos têm, com 20% do país ocupado por terras incultas, boa parte delas sem dono conhecido. Enquanto isso, 74% da população vive apinhada em apenas 2,4% do território, completamente betonizado. É também estranho que sejam os países pobres do sul da Europa (Portugal, Espanha, Itália, Grécia) a terem a maior parcela de proprietários, em detrimento do arrendamento - em Portugal, 73% de proprietários contra 27% de arrendatários. Como é estranho, estranhíssimo, que Portugal tenha um stock de habitação social residual (2,5%), dos mais baixos da Europa (na Holanda é 35%). Sinal de que existem vastos e poderosos interesses especulativos para que se construa sofregamente, mais e sempre mais, e que se construa para aquisição de casa própria. Não admira, assim, que os gastos dos portugueses com habitação tenham registado, na última década, a terceira maior subida da União Europeia.
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DN/Opinião - António Araújo
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