7 de fevereiro de 2024

Viagem (poema)


 Aparelhei o barco da ilusão

E reforcei a fé de marinheiro,

Era longe o meu sonho, e traiçoeiro

O mar...

(Só nos é concedida

Esta vida

Que temos;

E é nela que é preciso

Procurar

O velho paraíso

Que perdemos.)

 

Prestes, larguei a vela

E disse adeus ao cais, à paz tolhida,

Desmedida,

A revolta imensidão

Transforma dia a dia a embarcação

Numa errante e alada sepultura...

Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura,

O que importa é partir, não é chegar.


 Miguel Torga, Antologia Poética

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