3 de abril de 2024

Elas, mulheres

Em agosto de 1975, esta Maria, a quem os amigos chamavam de Fátima, perguntava: “Que manuais de leitura irão ler as nossas crianças e analfabetos, que valores tem ainda esta comunidade a oferecer à face do mundo e a si própria?” E em dezembro desse mesmo ano: “Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista. Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua de encarnado. Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água. Elas gritaram muito. Elas encheram a rua de cravos. Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes. Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua. Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas. Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.”


Luciana Leiderfarb

Expresso 

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