9 de junho de 2024

Meus lençóis de linho


Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,

Onde esperei morrer, meus tão castos lençóis?

Do meu jardim exiguo os altos girassóis 

Quem foi que os arrancou e lançou no caminho? 

Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!) 

A mesa de eu cear, d tábua tosca de pinho? 

E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho? 

- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco... 

Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova. 

Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova... 

Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve. 

Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais, 

Alma da minha mãe... Não andes mais à neve, 

De noite a mendigar às portas dos casais.


Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

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