10 de julho de 2024

Alegria



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Alegria sem causa, alegria animal que nenhum mal pode vencer. 

Doido prazer de respirar! 

Volúpia de encontrar a terra honesta sob os pés descalços.

Prazer de abandonar os gestos falsos, prazer de regressar, de respirar honestamente e sem caprichos, como as ervas e os bichos. 

Alegria voluptuosa de trincar frutos e de cheirar rosas.

Alegria brutal e primitiva

de estar viva,

feliz ou infeliz

mas bem presa à raíz.


Volúpia de sentir na minha mão, a côdea do meu pão.

Volúpia de sentir-me ágil e forte 

e de saber enfim que só a morte 

é triste e sem remédio.


Prazer de renegar e de destruir o tédio,

Esse estranho cilício,

e de entregar-me à vida como a

um vício.


Alegria!

Alegria!

Fernanda de Castro, in "D'Aquém e D'Além Alma"

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